07h00 – Levantei me porque as costas já não aguentavam a tábua da cama, lavei a cara no alguidar, a agua ficou muito suja (Nota: mudar a àgua pra semana), mijei na parede do curral, como faço todos os dias, aliviei a tripa ao pé das giestas atrás do curral (Nota: assinalar onde cago para no dia seguinte não borrar as botas).
08h00 – Primeiro que tudo dei os bons dias à minha princesa, gosto muito dela, ela é diferente de todas as outras, chama-se “carriça” e deixa me chupar o leite pelas tetas, não é muito cómodo porque põe a pata sempre nos meus olhos.
Aproveitei para ordenhar todas as outras ovelhas, mas estas fazem se sempre difíceis, entornam sempre o balde, parece que é de propósito, raios as partam (Nota: Não dar mais beijos a “carriça” em frente das outras).
09H00 – Cortei um pedaço de chouriça pendurada na cozinha e parti uma côdea de pão centeio, bebi um pouco de leite da “carriça”, mas hoje soube me a azedo (Nota: Ver se a “carriça” não mija ou deita as caganitas para o balde do leite).
10H00 – Hora de deitar as ovelhas para o lameiro a roda do curral, mas a “carriça” não sai de qualquer maneira, antes disso ajeitei-lhe a lã e penteie-a, ela é muito vaidosa, o “leão” ladra de contente e corre atrás das ovelhas abanar o rabo (Nota: Castrar o “leão”).
11H00 – As ovelhas andam no pasto entretidas, ligo o meu rádio e ponho a cassete do Quim Barreiros, sou louco por ele, ainda tenho a esperança de um dia o ver ao vivo, e esperança de cheirar o bacalhau da “carriça”.
12H00 – Levo as ovelhas para o monte longe de casa, subo ao som do Quim, hoje está um frio dos diabos, ainda bem que trouxe a garrafa do tinto, hoje vai descer bem pela goela.
13H00 – Chegado lá em cima a fome aperta, faço uma fogueira para assar uma chouriça e como com uma côdea de pão e vinho (Nota: Não beber o tinto todo na subida), mas a chouriça deixou me com sede (Nota: Trazer um garrafão pra próxima), por isso chamo a “carriça” e mais umas nódoas nos olhos, chupo-lhe as tetas, até ao ultimo esguicho.
14H00 – Hora de chamar a “carriça” novamente, dispo as calças e as cuecas cubro o zezito com erva e digo a “carriça” para aproveitar aquele manjar, ainda bem que a “carriça” não gosta de chouriço (Nota: Levar um papel para limpar a “carriça”).
15H00 – Enquanto pastam as ovelhas aproveito para fumar outro cigarro ao som do Quim, e passo pelas brasas. E sonho com a Heide, o Marco e a Heide estão escondidos atrás das giestas, na penetração (Nota: Acordar e chamar a “carriça”).
16H00 – Assobiar ao “leão” para reunir o gado para descermos a subida ao contrário, estou com uma vontade a um tintol, um gajo aqui não pode andar seco.
17H00 – Desço até ao rio, as ovelhas comem a ultima erva do dia, é por isso que são doidas, dispo as calças e a camisa e entro de cuecas no rio para me lavar, mas a agua estava tão fria que me encolheu o coiso (Nota: A “carriça” não me pode ver assim), a camisa serve de toalha, está um briol do caralho, vou a pingar.
18H00 – O dia foi cansativo, como todos os outros, um gajo não tem domingos nem dias santos, meto as ovelhas no curral e passo a mão nas tetas em todas elas novamente, ordenhar 100 ovelhas é difícil, as vezes acabo por ordenhar 130 (Nota: Identificar as ovelhas).
19H00 – A sopa e os grelos encontram-se já na mesa, o garrafão do vinho junto à minha cadeira, bebo um tintol como aperitivo e como a ceia como se o mundo acabasse daqui a 5 minutos.
20H00 – Vejo o noticiário e as novelas até deitar me.
22H00 – Deito me na cama dura, amanha o dia vai ser igual e depois também, é o que eu digo, não tenho domingos nem dias santos.
Texto a roçar a ficção, sem querer ferir nem denegrir a imagem do pastor Hermínio. Aconselho ver o documentário “Ainda há Pastores?”, já tive o prazer de o ver na totalidade e digo que fiquei sensibilizado com ele, de certo modo fiquei a admirar o Pastor Hermínio! Podem ver o trailer aqui..