Chamo-me Marco e tenho 31 anos. Neste Natal eu queria um presente muito especial. Eu queria que em todo o mundo houvesse Paz e Amor, mas sei bem que isso é impossível de realizar... pelo menos aqui no meu prédio.
Sempre que a vizinha do 5.º Dto. faz amor, não há paz na vizinhança. Principalmente quando o marido sai em viagem de negócios.
Para começar, eu queria que a minha prenda de Natal fosse um brinquedo muito divertido que vi na televisão. O que eu queria mesmo era uma coisa que vi ontem no Telejornal! Pai Natal, eu queria muito que me trouxesses um brinquedo que se chama RPG 7, que é um lança-granadas igualzinho aqueles que os terroristas usam para rebentar com os americanos no Iraque.
Mas preciso muito que me entregues o brinquedo já esta semana para eu fazer uma surpresa aos meus coleguinhas lá do trabalho. Eles vão estar todos numa festa de Natal, em casa do chefe.
Todos os meus colegas foram convidados para a festa menos eu, porque o meu chefe diz que sou teso e as minhas roupas parecem que foram compradas na Feira de Carcavelos, em segunda mão, aos ciganos. Eu sei que desfazer os colegas com tiros de bazuca não é uma coisa muito bonita. Mas no ano passado fartei-me de fazer boas acções e a prenda que me trouxeste foi um par de meias brancas.
A minha namorada vai pedir te daquelas máquinas que vendem tabaco nos cafés, é para ter cá em casa porque sempre que saio à noite para comprar tabaco só volto no dia seguinte. Quando chego a casa digo que corri os cafés todos da zona e só consegui encontrar a marca de cigarros que eu fumo em Bragança.
É engraçado! A minha namorada diz que vou a Bragança à procura da brasileira, mas que eu saiba isso não é uma marca de cigarros, é uma marca de café!
Depois a namorada começa a falar em marcas de baton na camisa e aí é que eu fico irritado! Olha, mas se não arranjares a máquina, tenta ao menos passar pelo Ribatejo e trazer um par de cornos. Pelo menos a namorada está sempre a dizer que era disso que eu precisava.
Para o meu irmão queria uma coisa mais simples. Basta trazeres umas roupas modernas, dessas que os adolescentes usam. Pelo que percebi, ele não deve gostar nada das roupas que os meus pais lhe compram, porque todas as noites, quando sai com os amigos, leva os vestidos da minha mãe. Diz o meu tio Zé que até dá pena ver o meu mano ali na zona do Parque Eduardo VII, com as pernas ao frio e com aquelas botas altas tão desconfortáveis. Deve-lhe doer muito os pés porque leva a noite inteira a pedir boleia aos carros que passam.
E pronto, acho que já está tudo! Agora vê lá, não te esqueças de nada, por isso, ou me trazes as prendas todas que te pedi ou é bom que comeces a procurar um bom advogado. E não te esqueças de comprar muitas embalagens de gel de banho. É que ali na prisão de Custóias dizem que é perigoso tomar duche com sabonete.
Beijinhos,
Marco